O vendedor de Milho Verde - Recicla Leitores

publicado em:15/05/20 1:37 AM por: Marilza Franco ContosMarilza Franco

Nesse exato instante, meu pensamento vai longe. Mais especificamente, na época escolar. Sentávamos em dupla, nas carteiras. E me lembro como se fosse hoje, da professora explicando à turma, a diferença entre os vocábulos “furto” e “roubo”.

Creio que não consegui prestar muito a atenção. Já que, eu estava mais preocupada com a situação imaginária, de alguém que tenha os seus pertences levados por outra pessoa. Em resumo, ter prejuízo a contragosto! A meu ver, as duas palavras eram ambíguas. Equivaliam-se. Já que ambas significavam perda para a vítima!


Por que estou dizendo isso?! Vocês já vão entender!

No início de janeiro, deste ano, creio que, numa segunda-feira, a campainha tocou, logo pela manhã. Era um rapaz oferecendo milho verde. De bicicleta, acomodava sabiamente várias sacolas, no guidão. Rosto já suado pelo esforço. Pés nos chinelos. Mãos ásperas pelo trato com a terra. Camisa poída pelo uso constante. Um trabalhador. Mas, tinha no semblante a esperança e a alegria da juventude.

Várias vezes, nas semanas seguintes, ele passava. Trazendo sempre o precioso produto para um bom refogado. Uns compravam, outros não. Mas, ele seguia confiante, na sua tarefa de ganhar algum dinheiro.

Depois, passou a vir de máscara, devido à atual situação. Sempre com a mesma simplicidade e alegria.

Hoje, porém, ele passou novamente. Desta vez, cabisbaixo, triste! Antes de qualquer explicação eu notei essa peculiaridade.

– A senhora não sabe o que aconteceu!

– O que foi?!

– Roubaram a minha bicicleta!!!

Só então, percebi que realmente ele estava “a pé”. Pela sua tristeza, é que me dei conta da importância e da utilidade daquele objeto de transporte.

– Quem foi que fez isso?!

– Sei não! Foi na porta de casa! Ninguém viu! O jeito agora é trabalhar em dobro e tentar comprar outra “magrela”. Nem que for de segunda mão!

Não tive muito o que dizer. É o momento que, nenhuma palavra ajuda, ou faz sentido.

Limitei-me apenas, a agradecer-lhe por ter trazido o milho para o meu almoço.

Fechei o portão pensativa. Acho que não quero mesmo saber, a diferença entre “furto” e “roubo”.

Penso que não faz diferença!

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Sou Marilza Franco. Natural de Capitólio - MG. Desde 1971 resido em Franca - SP. Tenho graduação em Letras. Já lecionei em escola pública. Faço pintura mediúnica. Tenho uma filha com Síndrome de Down e autismo. A minha luta é pela inclusão.