Buraco Negro - Recicla Leitores
Chuva de poeira incandescente. Partículas de vida passada e talvez futura, mas, ao menos, não presente.
Era aquilo homicídio? Seria eu um ladrão? Era sim, sabia. Ladrão de vidas, era isso mesmo.
Roubava de estrelas, afinal. Vida de estrela.
Pobre de suas vidas, todas misturadas no pó-resto dentro do bolso do casaco.
Mas de certa forma não é minha culpa. Não, não, nada disso, preciso das estrelas.
Vai reclamar com o mundo/universo/galáxia, não vai adiantar mesmo. A culpa é da Lua.
Maldição de Lua, escute bem o que digo. Me prendeu nessa sede de luz por não ter sua própria luz. Espelho barato, ridículo.
Por que é que a amam tanto, hein? Ei, você mesmo! Não me ignora, me diz! Qual é a graça de roubar brilho? Será que brilhar machuca? Sei lá, deve ser isso.
Chacoalha de cá, mexe de lá. Quando se tira o brilho de quem pertence, não sobra nada mais que pó aparente. Entra pelo nariz que é uma beleza, dá uma alergia… Nossa, agora que percebi que faz mal. Será que a estrelinha se sente mal?
Ah, sente nada, nada mesmo. Quero dizer, é isso mesmo, não sente mais nada. Não luta pelo brilho. Quem mandou achar que eu não ia roubar? Hein, HEIN? Sambou, agora. Acabou.
Mas aqui, só por desencargo de consciência, se você for uma estrela, tome mais cuidado, tá. Com buraco negro não se brinca.