A Lenda do Poço - Recicla Leitores
Em Palmares PE, vivia uma família com oito irmãos, sete meninos e a Sofia, a única menina da casa e acabará de completar seus sete anos.
Conceição a muito contra gosto do seu Antônio matriculou a sua Filha para estudar em uma escola mais perto de sua casa, mas que era distante da sua cidade. O ônibus escolar chegava as seis e vinte cinco da manhã e todos os dias Sofia estava ali prontinha sem, café da manhã e nada de lanche para levar para o recreio. A pobreza era extrema. Mesmo assim Sofia estava feliz por estar indo para a escola.
Ela era uma das poucas meninas que estudavam na cidade. Fez o primeiro ano, aprendeu a ler e a escrever gostava muito da escola, se sentia mais livre e descontraída.
A volta para casa não era muito agradável, sua mãe sempre se preocupava com ela e perguntava entre os dentes como tinha sido o dia na escola.
Sofia respondia quase que sussurrando e sempre olhando para ver se o pai escava ouvindo as conversas pelo canto o que era de costume. Muito feliz ela mostra os exercícios para a mãe que nào sabe ler mas fica feliz com o aprendizado e crescimento da filha.
Seu Antônio tosse no quarto ao lado, assustada Sofia guarda tudo correndo, se senta numa cadeira e vê quando o pai chega na porta da cozinha.
Seu pai pergunta como ela está e se o almoço está pronto. Dna Conceição diz que sim e que já colocará a mesa. Ele se vira para s filha e pergunta se ela foi para escola estudar ou procurar macho.
Dizia que filha dele tinha que viver sobre o seu cabresto. Acuada ela nem o respondia. Seu Antônio bebia tanto que nunca sabia onde deixava as coisa, só ver que a menina estava sentada sem fazer nada pediu para que ela se levantasse e fosse procurar a gimba de cigarro que ele havia perdido.
Ainda era exigente, queria que quando ela achasse levasse para ele no quarto com o isqueiro vermelho pois os outros estavam falhando.
A filha procurou e não achou. Com medo que o pai brigasse com a filha Dna Conceição pegou um restinho de fumo que havia escondido, pegou um pedaço de papel de pão e fez as pressas uma mirrola. Sofia corre para entregar ao pai. Ele a pergunta pelo isqueiro Sofia diz que a Mirrola já está acesa ele pega a mirrola e ao berros apaga na cabeça dela dizendo: eu pedi para você me trazer o cigarro com o isqueiro e não esse porcaria aceso, olha como esta todo babado. Sua mãe e vocè não servem para nada! Some daqui sua … você é igualzinha a vaca da sua mãe.
Pegou o pânico e deu uma pancada na cabeça da filha chamando-a de besta fubana.
Sofia Chora e seu choro é interrompido quando o pai tira o cinto da cintura e manda que ela se cale e limpe toda aquela sujeira.
A menina limpa tudo toma um banho e todos vão almoçar. Seu Antônio pergunta que porcaria de comida é aquela que nem os porcos conseguem comer, pega o prato e joga no meio da cozinha, vai para a varanda amolar uma peixeira. Carlos e Emanuel chegam em casa e perguntam ao pai se ele iria caçar pois estava amolando a peixeira. Ele responde que não, que só estava amolando para enfiar no bucho do primeiro que o perturbasse.
Os meninos entram de fininho e Antônio bebê seu gole de tinha jogando um pouquinho no chão para o santo. Os meninos veem a mãe e a filha chorando as abraçam e diz que um dia isso tudo iŕá terminar, almoçam e vão descansar.
Seu Antônio sai e só volta a noite com uma garrafa de cachaça um rolo de fumo e duas bisnagas e Ao entra em casa entregou o pão a esposa tirou a camisa guardou o fumo e a cachaça. Chamou a Sofia e pediu para ela o mostra seu material escolar.
Ao revistar seus cadernos perguntou para que ela queria estudar se o trabalho dela seria ficar em casa tomando conta dos filhos, assim como a mãe. Dizia que escola era coisa de rico ou mulher à toa.
O ano se passou e Sofia já estava ficando uma moçinha 12 aninhos. Seu coraçãozinho já estava batendo mais forte, estava descobrindo o primeiro amor, cartinhas passava de mão em mão, Sofia recebia as suas e escrevia também, mas ela era uma menina tímida, não demonstrava seu amor tão fácil, escrevia as cartas para o Francisco, um rapazinho de 14 anos da sua turma. Mas entregar, jamais, e nunca Francisco leu alguma, ela nunca o entregava. Ela preferia expressar seu amor por ele desenhando e escrevendo em seu caderno. Ninguém nunca tinha visto, talvez somente a professora na hora de corrigir a matéria.
Um dia, na hora do recreio, Francisco se aproximou dela e segurou em sua mão, nervosa ela logo a recolheu.
Os dias foram passando e Sofia se apaixonando, começou a trocar olhares com ele, na sala e no recreio.
Seu Antônio estava percebendo mudanças no comportamento da sua filha, ela estava muito aérea e sorridente demais.
Certa noite ele resolveu olhar seus cadernos, coisa que não fazia a algum tempo . Ao folear as páginas viu várias declarações para Francisco. Enfurecido, bêbado e enciumado, ele pegou um cinto no armário e começou a bater em Sofia que ainda dormia.
Aos gritos, assustada e sem saber o motivo pelo qual estava apanhando só fazia chorar.
Seu pai a xingava de tudo que era nome ,dizia que ela nunca mais voltaria a escola. Pegou o caderno e esfregou na cara dela mostrando que o Francisco que ela amava nunca mais iria vê-la. Conceição e os irmãos pediam para o Antônio parar de bater na filha, mas Francisco se vira para eles e tira sua peixeira do bolso dizendo que se alguém se metesse iria se ver com ele. Puxando Sofia pelo braço, a coloca na carroça e sai com ela de casa. Só retornando cinco horas mais tarde.
Conceção pergunta pela filha e ele diz que ela está bem, e que está em um lugar que ela jamais precisará estudar. Diz para Conceição que em breve todos iriam visitá-la todos os dias. Pediu que a mulher arrumasse as trouxas que em três dias eles iriam se mudar. Conceição pergunta o motivo da mudança repentina. Sem dizer uma só palavra dá um tapa na cara dela dizendo que não pediu que ela o indagasse.
Conceição obedeceu e em três dias eles estavam a caminho da outra casa. Era uma casa que ficava distante de tudo e para se conseguir pegar água tinha que andar uns 40 minutos até um poço.
De quatro em quatro dias. Conceição ia com os filhos pegar água para a limpeza da casa e consumo diário. Toda vez que ela ia ao poço se sentia bem. conversava com ele falava sobre a filha que havia sumido ja fazia uns cinco anos. Uma lágrima cai no poço e imediatamente uma folha sobe, Conceição pede filho Jorge para pegar o balde e cuidadosamente ela tira aquele papel da água e coloca aberto no chão e pede para o Jorge ler.
Nele está escrito ” Não chores mamãe! Eu amo todos vocês”.
Conceição abismada comenta com os filhos que aquilo até parecia uma mensagem da Sofia.
Voltando para casa Conceição mostra o bilhete para o marido e pergunta para ela onde a menina foi levada, já se passaram vários anos e ninguém nunca mais viu a Sofia.
Ele a responde que a deixou sobre os cuidados de uma moça que o prometeu colocar em uma instituição.
Chorando Conceição o diz que ele havia dito que todos os veriam todos os dias. Mas ele diz que mentiu que só poderiam ver a Sofia quando ela completasse a maior idade e que a instituição não aceitava visitas. Os anos se passaram e Conceição foi ficando doente, a falta da sua filha foi a deixando perturbada, mesmo assim de quatro em quatro dias ela tinha que voltar ao poço. Quarta feira 12 de junho Conceição estava muito debilitada, mas o marido sempre estava bêbado em casa e seus filhos estavam trabalhando nos canaviais , mesmo indisposta nesse dia ela teve que ir sozinha.
No meio do caminho não se sentiu muito bem, estava sem uma gota de água para bebe, cansada resolveu se deitar na carroça e adormeceu ali.
Um carro branco queria passar mas a carroça o impedia de seguir viagem. Ele então sai do seu carro vai até a carroça e percebe que a dona estava desmaiada e desidratada.
Ele pega uma garrafa no seu carro umidesse a boca da Conceição a despertando vagarosamente.
Ao ver que ela estava melhorando ele a pergunta seu nome. Conceição o agradece pela a ajuda e diz que terá que continuar a seguir o seu caminho pois estava indo buscar água para a Família.
O rapaz se oferece para ajudá-la e segue com ela, os dois chegam no poço e Conceição começa a falar com o rapaz sobre a filha e diz que falar sobre ela diante do poço a dava força para viver.
Parecia que o poço a ouvia e falava com ela.
O rapaz se senta a beira do poço para ouvir a história. Abraça a Conceição dizendo que não sabia o que a Sofia nào morava mais com a familia e que sentia muito por todos.
Conceicào pergunta de onde ele era e ele ia respondendo quando foi interrompido por uma voz:
“Ele é de Segredinho cidade próxima a que moramos. Ele é o Francisco.”
Olhando para o poço Conceição vê uma moça saindo.
Francisco assustado se afasta do poço, mas a moça os tranquiliza pedindo para que não tenham medo dela, pois ela só queria abraçar os grandes amores da vida dela. E se apresenta “Eu sou a sua filha Sofia.”
Nunca mais eles se separaram. Francisco deu parte de seu Antônio que foi preso e internado num manicômio.
Francisco comprou o terreno onde o poço se localiza construiu uma casa e passou a morar com a família onde todos poderiam conversar com Sofia e estar próximo a ela. O poço passou a ser de propriedade particular e essa história passou a ser conhecida por todos na cidade.
Todo mundo que desejava realizar um desejo marcava um horário para visitação ao poço e oferecer o que mais Sofia gostava, material de estudo: cadernos, lápis, livros, que no final eram distribuídos para as escolas.
Cinco anos mais tarde uma escola foi construída na região com o nome de: Escola Municipal Sofia Lê. Sabesse que seu Antonio ficou louco de vez e perguntava para os enfermeiros sobre a sua Filha Sofia, e seus familiares que nunca foram visitá-lo.
Como nunca teve resposta, ele resolveu fugir do manicômio pela terceira vez e dessa vez ele escutava a voz da Sofia o chamando e ele acompanhava a voz. Aquela voz doce o chamando.
-Pai, pai, vem aqui pai, estou aqui.
– Onde você esta filha?
– Estou aqui, aqui é escuro e frio. Eu sempre tive medo de escuro. Estou presa aqui, vem me ajudar.
– Onde filha?
– Quero te ver e me desculpar contigo.
– Mais cinco passos vc chega até a mim.
– Já dei os cincos passos e não te vejo.
– Olha para baixo estou aqui. Segura a minha mão pai.
– Filha você está aqui.
Sofia o puxa para dentro do poço que nunca existiu ali no manicômio.
A tampa foi fechada e a grama cobriu o poço.
Na manhã do dia seguinte todos procuraram seu Antônio e acharam que ele havia conseguido fugir.
15 anos mais tarde fizeram uma escavação naquele lugar e acharam uma ossada enterrada.
Ficou o mistério para o manicômio. De quem seria aquela ossada?
Investigações começarão.
Maria Ferreira Dutra: Texto e arte
Adriano Siqueira: Arte e revisão