Cyberpunk – O Lado Obscuro da Ficção Científica - Recicla Leitores

publicado em:17/01/20 8:42 PM por: Renato A. Lima Dicas Literáriasficção científicaRenato A. Lima

Muitos já devem ter lido ou ouvido falar sobre “Cyberpunk”, esta palavra estranha que lembra um gênero musical rebelde e cheio de atitude, aliado a tecnologia cibernética. Mas afinal, o que raios é isso?

             Cyberpunk é um subgênero de ficção científica, e o termo (justamente da combinação de cibernética e punk alternativo) foi usado pela primeira vez na revista Science Fiction, publicada em 1983, mas só se popularizou com as novelas cyberpunks de William Gibson: Neuromancer, Count Zero e Mona Lisa Overdrive, escritos em meados da década de 80.

            Conhecido por seu enfoque de “alta tecnologia e baixa qualidade de vida” (“High tech, Low life”), o mundo cyberpunk é distópico, sujo e caótico. As sociedades são marginalizadas em sistemas avançados culturalmente, mas o povo é constantemente oprimido e alienado por impérios corporativos, uma religião fundamentalista, um computador ou um sistema dominador.

Blade Runner – clássico cyberpunk

            Segundo William Gibson, em seu livro Neuromancer, o indivíduo cyberpunk é uma espécie de “pichador virtual” que se utiliza de seu conhecimento acima da média para realizar protestos contra a sistemática vigente das grandes corporações, sob a forma de vandalismo com cunho depreciativo.

            Para muitos, o subgênero é o estilo mais underground que se contrapôs as utopias impostas da ficção científica nas últimas décadas do século XX, como Star Trek (Jornada nas Estrelas). As novelas cyberpunks costumam associar a tecnologia ao corpo humano, e é comum o uso de implantes no cérebro, por exemplo, para melhorar o desempenho físico e mental de uma pessoa. Além disso, são comuns os enredos se desenrolarem e se ambientaram virtualmente no ciberespaço, fazendo, por exemplo, uma ligação direta entre o cérebro humano e sistemas de computador.

            Os cenários e ambientes cyberpunks são geralmente sinistros, sombrios, pessimistas, sujos e degradados, num futuro desgraçado pela tecnologia. Nestes cenários, computadores ligados em redes dominam todos os aspectos da vida cotidiana, e empresas multinacionais substituíram o Estado como centros de poder. Por conta disso, a luta dos excluídos contra o sistema totalitário é um tema bastante comum nesse tipo de ficção, demonstrando a luta empreendida por renegados desiludidos contra as entranhas da corporatocracia.

            Uma característica interessante do estilo cyberpunk, que poucos gêneros e subgêneros dão valor, é dar destaque ao que sempre é tratado com desprezo e arrogância: os excluídos, os párias e desajustados, que vivem à margem da sociedade, são justamente os que se tornam os heróis, mesmo que imperfeitos e muitas vezes imorais, para liberar o sistema ou a si próprio da dominação completa e opressora ao qual lhe rodeia.

            No cyberpunk não existe o ideal perfeito de um herói ou salvador, puro e imaculado de defeitos, como retratados muitas vezes em utopias e histórias “de mocinhos e bandidos”. O maniqueísmo é deixado de lado, e os heróis são retratados como seres humanos normais, capazes de grandes feitos, mas também de grandes bobagens, que nem sempre tomam as melhores decisões. Esses heróis são pessoas simples, sem motivos nobres para salvar o planeta, e muitas vezes só almejam um bem-estar pessoal.

            Várias são as obras que se destacam no universo cyberpunk, e duas delas são essenciais para quem procura ler sobre o subgênero: “Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?”, escrito por Philip K. Dick, que deu origem ao filme “Blade Runner”, um clássico cyberpunk de 1982, e a “Trilogia Sprawl”, de William Gibson.



Post Tags

Renato A. Lima é brasileiro, nascido em Cascavel, PR. Desde jovem, ele acredita que as manifestações artísticas são intrínsecas para moldar o que o ser humano é hoje. A música, em particular, sempre foi uma de suas maiores paixões, o que o levou a trabalhar como professor de música por muitos anos. Renato se interessou e despertou sua inclinação pela escrita enquanto cursava História, o curso pelo qual se formou em 2015. Enquanto ainda era acadêmico, escreveu um resumo do que seria o início da série “Despertar – O Renascimento”, e iniciou o projeto com afinco após se formar, com influências de diversos autores, dentre eles J. R. R. Tolkien, Stephen King, J. K. Rowling, além de influências diretas da cultura pop em geral. Além de escritor, Renato é apaixonado pela cultura japonesa, amante da música, cinéfilo de carteirinha, e nerd em tempo integral.