Dúvida Cruel - Recicla Leitores
A dúvida é um sentimento, uma situação recorrente na vida de todos nós. Creio que da maioria.
Quem é que não ficou em dúvida sobre qual carreira seguir?! Qual caminho nos dará melhor futuro?! Sobre qual calçado ou roupa comprar?!
A situação fica um pouco mais complexa quando a vendedora faz “desfilar” na sua frente os inúmeros produtos, com as inúmeras cores. Se a opção fosse uma só seria muito mais fácil. Mais prático. Mais rápido.
Já construí casa. Quero dizer, ajudei comprar material. Mas, enfrentei dificuldade na hora de escolher o azulejo mais adequado. O piso mais conveniente. Sem falar nos modelos de portas, vitrôs e venezianas. Cor de tinta para as paredes. Uma luta!
Pois bem. Mas, existem outros tipos de dúvida que no dia a dia acabam trazendo perda de tempo, atraso e preocupação. Já convivi com isso. Confesso que estou me policiando um pouco mais. Cada vez mais!
Algumas vezes, já tive que retornar em casa, por não ter a certeza definitiva se desliguei o gás. Se fechei o portão. Se tranquei a porta. Se deixei água para os gatos, que são sete! Se desliguei o ferro de passar roupa. Se tirei o plug da tomada. Essas coisas! Ah! Se fechei a torneira do quintal. Pensa! A água ficar jorrando por uma hora ou duas, na minha ausência? O quanto não pesaria na conta?! É algo muito sério. Desperdício nunca foi de meu agrado.
Definitivamente. Teve uma vez, que marquei uma consulta no oftalmologista. A rua onde deixei o carro era devidamente íngreme. Faltando dez minutos para o horário, puxei rapidamente o freio de mão e engatei a primeira marcha. Tranquei a porta. E me dirigi para o consultório. Sorte. Apenas uma pessoa na minha frente. Algo raro. Conversa vai, conversa vem, a jovem paciente passou pelo procedimento de pingar colírio. E foi chamada à consulta. Ficou somente eu e a secretária. Ela conferiu a ficha. Era a minha vez de receber o colírio também. Dali a alguns minutos, creio que uns vinte, eu também passaria pela consulta. O colírio já estava praticamente fazendo efeito. Quando me bateu uma dúvida. Uma dúvida cruel. – Será que deixei o carro engatado?!
Foi o suficiente para que eu me desconcentrasse. Impossível conversar com o médico, fazer o exame com essa preocupação. Afinal, a rua era de descida. Imagina o veículo sem direção, rua abaixo?! Um perigo sob minha responsabilidade. – Por gentileza, abra a porta para mim? Preciso sair um minuto. – Mas… você já é a próxima! – É rápido. Se chegar outro paciente, pode passá-lo na frente. Retornei ao veículo. Tudo certo. Tudo na mais perfeita ordem!
Só não estava em ordem o meu fôlego. Que estava por um fio. Ao mesmo tempo que bateu um sentimento de alívio, veio também um sentimento de decepção. Esforço desnecessário.
Retornei a tempo de ver a paciente anterior indo embora de óculos escuro, acompanhada pelo marido, que veio buscá-la. Já aconteceu também de não ter a devida certeza de já ter colocado sal na comida. Na dúvida, melhor ficar sem sal. Literalmente. Melhor pra saúde. Muito melhor! Fácil de resolver.