Fahrenheit 451 - Recicla Leitores

publicado em:10/02/20 1:01 PM por: Bruna Adenice Bruna AdeniceDicas LiteráriasResenha

Realista, porém necessário!
Confesso, tive receio em ler esse livro. Sim, porquê nunca havia lido nada do gênero e o mesmo não me atraía (?). Acabei o adquirindo após ver a inúmeras críticas positivas a seu respeito e a sua importância para a literatura. E, finalmente…resolvi ler!!

A conclusão que cheguei: Nossa, quanto tempo perdi em não lendo essa história. Gente, que texto realista e atemporal. Chega a ser sufocante o choque de realidade que o mesmo causa!!! Uma narrativa extremamente necessária.

Essa distopia retrata uma sociedade, cujo governo totalitário proíbe ao cidadão ter livros. Para tanto, compete aos bombeiros a tarefa de invadir a casa das pessoas no intuito de queimar toda e qualquer obra literária e dar a de vida punição a quem descumprisse tal ordem.

Essa proibição tem o propósito claro de alienar as pessoas que, sem acesso a informações, deixam de questionar os fatos e vivem numa ideia de “falsa felicidade”.Programação de TV, como novelas, são exemplos de programas cuja intenção é o de afastar o senso crítico das pessoas. “(…) O televisor é ‘real’. É imediato, tem dimensão. Diz o que você deve pensar e o bombardeia com isso. Ele tem que ter razão. Ele parece ter muita razão. Ele o leva tão depressa às conclusões que sua cabeça não tem tempo para protestar. ‘Isso é bobagem!’ ” p.109

Segundo a obra, promover a alienação das pessoas os torna “mais felizes”, Uma vez que jamais serão questionadores. “(…) Se nao quiser um homem politicamente infeliz, não lhe dê os dois lados de uma questão para resolver; dê-lhe apenas um. Melhor ainda, não lhe dê nenhum. Deixe que ele se esqueça que há uma coisa como a guerra. Se o governo é ineficiente, despótico e ávido por impostos, melhor que ele seja tudo isso do que as pessoas se preocuparem com isso. (…)” p.84

Outro ponto muito destacado na história é a ausência de relações interpessoais. Aqui, as pessoas não demonstram afeto pelo outro ou sequer interesse pelo os que estão a seu redor fazem. O protagonista da história, por exemplo, vive num relacionamento totalmente superficial com sua esposa. Outra personagem destaca sua relação “amorosa” com os filhos: ” Meus filhos ficam na escola nove dias seguidos e depois eles têm um dia de folga.Eu os aguento em cada três dias por mês; não é nada de mais. A gente põe as crianças no ‘salão’ e liga o interruptor. É como lavar roupa: é só enfiar as roupas sujas na máquina e fechar a tampa. (…)” p.123

A obra se torna ainda mais realista ao abordar situações que têm se tornado cada vez mais rotineiras em nossa sociedade. Vale destacar o acesso fácil porém superficial das informações. ” Clássicos reduzidos para se adaptarem a programas de rádio de quinze minutos, depois reduzidos novamente para uma coluna de livro de dois minutos de leitura, e, por fim, encerrando-se num dicionário,num verbete de dez a doze linhas (…)”p.77

O texto ainda tece críticas a forma como a educação é vista nesse governo e, infelizmente, muito disso tem sido cada vez mais comum em nossos dias atuais. “(…) A escolaridade é abreviada, as disciplinas relaxada, as filosofias, as histórias e as línguas são abolidas, gramática e ortografia pouco a pouco negligenciadas, e, por fim, quase totalmente ignoradas. A vida é imediata, o emprego é que conta, o prazer está por toda parte depois do trabalho. Por que aprender alguma coisa além de apertar botões, acionar interruptores, ajustar parafusos e porcas?” p.78

“Fahrenheit 451” se torna, a cada página, um relato praticamente fiel da nossa realidade, cuja sociedade é extremamente consumista, dominada pelas tecnologias e de valores pessoais totalmente superficiais. Uma sociedade em que os intelectuais, os que buscam conhecimento de qualidade são rechaçados e tratados como imbecis enquanto os desprovidos de senso crítico são ovacionados.

” Os que não constroem precisam queimar. Isso é tão antigo quanto a história e os delinquentes juvenis.” p.115



A última modificação foi feita em:março 25th, 2020 as 2:22 am


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Nascida em Dourados, Mato Grosso do Sul, é jornalista por amor e formação. Desde criança tem paixão pelas letras. Ama o cheiro de livros. Livrarias e bibliotecas são mais que meros espaços, são refúgios. Acredita no poder da leitura e da arte na transformação das pessoas, tanto é que escolheu a licenciatura em Artes Visuais como sua outra formação. Sempre consegue aprender algo novo com uma nova leitura e está sempre procurando boas indicações de leituras.