O Assédio da Campainha - Recicla Leitores

publicado em:7/06/20 10:08 PM por: Marilza Franco ContosMarilza Franco

Naquela manhã, de sexta-feira, eu tinha planejado ficar na cama, descansando, até pelos menos, às 8h00. Um verdadeiro luxo, para quem, há quase um século (exagero!) põe-se de pé, invariavelmente, às 6h00 da manhã. Faça chuva. Faça sol. Incluindo domingos e feriados.

Pois bem, pelo menos, era essa a minha intenção. Mas, eis que, o som da campainha interrompe os meus pensamentos. – Quem pode ser, uma hora dessas?! O aparelho marcava 6h35. – Só olhando, pra ver! Olhei pelo “olho mágico”. Sim! Casa de gente rica (de saúde), que se prese, tem que ter pelo menos esse acessório. No mínimo! Eram quatro adolescentes que se encaminhavam para a escola. E iam felizes, entre conversas e gargalhadas juvenis. Dei todos os descontos possíveis e inimagináveis pela “brincadeira”. Já tive a idade deles! Sei como é! Retornei ao meu merecido descanso.

Novamente o som da campainha, meia hora depois. Era um vendedor de rodos e vassouras. – Só um minutinho! Acabei adquirindo um par desses itens tão úteis, no dia a dia. O moço me agradeceu. Era a primeira venda efetuada, com sucesso. Seguiu, acomodando os vários cabos de madeira, nos ombros.

Desisti. Fui pra cozinha fazer café. Novamente o som da campainha. Era o vendedor de gás. – Hoje não!

Mal havia terminado o meu “café com pão”, novamente o chamado da campainha! – Hoje promete! Resmunguei comigo mesma. Era o carteiro. Por um segundo lembrei-me da época em que as pessoas escreviam cartas à mão. Era uma emoção sem fim, receber uma missiva com selo e carimbo dos Correios. Saudades! – Assina aqui por favor! Era um cartão magnético, substituto do que vencera a data.

Lá pelas 10h00, fui estender roupa no varal. Novamente a campainha. Era o consertador de panelas. – Não estou precisando. – Serviço bem feito! – Não há nenhuma pra consertar. – Um bom dia!

Fiz almoço. Todo mundo almoçou. Horas depois, fui fazer o café da tarde. Mal tinha acabado de colocar a água para ferver, eis que a campainha se fez ouvir novamente! Era um senhor, pedindo informação do nome da rua. Estava à procura de um parente. Expliquei-lhe em detalhes e ele se foi, andando com dificuldade. Ainda bem que o endereço que ele procurava, era na rua de baixo. Muito perto. Esse senhor usava chapéu. Por um momento, bateu-me uma saudade enorme de meu querido pai! Chapéu era o acessório favorito dele.

Bem, o sol se pôs. Nuvens alaranjadas enfeitavam o céu. Finalmente, eu poderia relaxar. Talvez, ler um pouco. Ótima idéia. Ainda tinha um tempinho antes da janta. Fui pegar um livro. Eis que novamente a campainha toca. – Não é possível!!! Era o mecânico trazendo o meu carro devidamente consertado! Novinho em folha! Uma beleza! Detalhe: eu já havia esquecido que ele tinha levado o carro, no dia anterior! Coisas da idade! Acontece.



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Sou Marilza Franco. Natural de Capitólio - MG. Desde 1971 resido em Franca - SP. Tenho graduação em Letras. Já lecionei em escola pública. Faço pintura mediúnica. Tenho uma filha com Síndrome de Down e autismo. A minha luta é pela inclusão.