O Ataque do Tubarão - Recicla Leitores
Uma velha história, acreditem se quiser! É vero!
Sobrevivi a um ataque de tubarão. 🦈
Nunca contei essa história a ninguém, mas fui atacado por um tubarão numa praia maravilhosa do litoral norte Paulista, há alguns anos, exatamente quinze anos atrás. Eu tinha vinte e cinco, estava no auge da minha condição física, mas não foram minhas qualidades físicas que me salvaram, foram os livros que eu tinha lido a respeito sobre ataques de tubarões e quais as precauções para se evitar esse encontro mortal e, caso ocorra, como agir. Não posso negar, também, que tive sorte, além de destreza e técnica.
Muitos de meus amigos dirão: Ah, Beto, você é um bom contador de estórias, não há qualquer sinal, cicatrizes ou algo do tipo em seu corpo que comprove isso.” Bom, digamos que o tubarão se deu mal comigo. Contarei nos mínimos detalhes.
Eu estava numa praia paradisíaca comendo uma porção de camarão, tomando umas caipirinhas, e de repente me deu uma vontade de fazer xixi. O banheiro ficava a cerca de setecentos metros de onde eu estava. Por preguiça, decidi usar o mar como toalete, pois eu me encontrava a alguns passos dele. Fui entrando na água e percebi que ela era límpida, via os peixinhos e caranguejos no fundo, milhares de seres vivos em miríades de cores, um espetáculo inigualável para meus olhos e de muitas outras pessoas. Concluí que se eu soltasse o líquido ali as dezenas de pessoas que se banhavam próximas de mim perceberiam a alteração da coloração da água ao meu redor. Essa preocupação me fez avançar mar adentro, de modo que me distanciei da praia, atingindo uma profundidade no peito, e a água já era um pouco menos transparente e mais fria. Foi aí que a coisa complicou para mim.
Eu estava relaxado fazendo minha necessidade fisiológica, vislumbrando a imensidão do oceano Atlântico, vendo aqueles pássaros mergulhando para caçar peixes, um navio cortava as águas lá no alcance mais distante da minha vista, quando vi à minha frente àquela famosa e amedrontadora barbatana dorsal do tubarão, circulando bem próximo, ia e voltava, mas a cada movimento completo se aproximava mais de mim. Eu pensei: “que porra é essa, vou ser comida de tubarão? Deus tá de brincadeira comigo. Deus não, isso só pode ser pegadinha do Faustão, aquele gordo chato.” Para me acalmar eu gritei para o tubarão: “Oh, palhaço, para de idiotice. Levanta logo sua cara.” Comecei a dar risada, assoviar, até que eu percebi que não era brincadeira, era tubarão mesmo. Eu estava distante da praia e não tinha como pedir ajuda. Aliás, não tinha bombeiro naquela praia. É o lado ruim das praias desertas. Agora era eu e o tubarão, não tinha para onde correr, ou melhor, nadar!
Eu raciocinava, buscava uma saída estratégica para não virar café da tarde daquele tubarão. Saltou-me à memória umas dicas que li de um livro de marinheiro de como sobreviver a um ataque de tubarão. As palavras surgiam como um milagre no meu cérebro, estavam ali arquivadas no cantinho do inconsciente e agora, no momento crucial da minha vida, vinham à tona, como a adrenalina e a endorfina.
Primeiro ponto, evite águas turvas. Bom, a água não estava cristalina, mas também não era turva. Eu tinha uma chance de o tubarão não reconhecer em mim uma presa natural.
Tubarão não curte carne humana. Nos ataques eles mordem e quando percebem que não se trata de seu prato predileto, ele vai embora.
De repente, o tubarão veio vindo na minha direção. Lembrei de outra dica, está de ouro: não se movimente, os tubarões tem sexto sentido, captam as ondas do campo eletromagnético de coisas em movimento. Não é bom atiçar a curiosidade deles. Fiquei inerte, estático, parado como um espantalho no milharal. Outra dica é não usar vestimenta de cores chamativas ( laranja, verde fluorescente, etc). Ufa, eu estava de bermuda cinza, me tranquilizei nesse ponto.
Segundo as estatísticas, os ataques de tubarões ocorrem mais nos períodos de lua cheia e lua nova. Não há ainda um explicação exata, mas deve ter a ver com a questão das marés, do campo magnético que a lua exerce sobre o mar, a força gravitacional, etc. Eu não me encontrava no perigoso período lunar, para meu alívio.
No entanto, o tubarão veio me atacar, contra todas as estatísticas e dicas. Como disse, você deve permanecer imóvel para o bicho não te perceber, mas caso haja o ataque, se movimente, seja agressivo com ele. Tente acertar as partes sensíveis do tubarão, em especial os olhos.
Foi o que fiz, não sei como, mas eu rodopiei o corpo e a encertei um chute frontal bem no olho do tubarão. Vi meu pé passar por dentro da boca aberta dele e quando eu desci o calcanhar senti o olho dele amassado com o forte chute que dei. Não sei de onde tirei tanta força, só sei que o caçador destemido dos oceanos deu marcha ré e ganhou mar adentro. Na minha perna havia um pequeno risco sangrando, como se eu tivesse me enroscado numa cerca de arame farpado.
Voltei para a praia, tremendo, a mulher do quiosque perguntou se eu estava com frio, eu respondi que sim, mas na verdade era o stress, a adrenalina. A moça me cobriu com um toalha e eu agradeci. Ninguém viu, e eu permaneci calado, pois não acreditava no que acabara de acontecer comigo.
Quem acreditaria que eu não só sobrevivi a um ataque de tubarão de quatro metros, como ainda o nocauteei ao estilo Anderson Silva. Chute frontal.
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