Ofício do Escritor – Dicas e Dificuldades - Recicla Leitores

publicado em:4/06/20 10:59 PM por: Renato A. Lima Dicas LiteráriasRenato A. Lima

            Quem nunca teve um sopro de inspiração que te fez fugir da correria do dia-a-dia, levando-o a imaginar mundos fantasiosos ou ideias mirabolantes? É a partir destas ideias que nascem os livros, inclusive a maioria dos best-sellers já escritos. Mas aí vem a pergunta: como transformar essas divagações em um livro? Muitas vezes o trabalho e estudo preenchem boa parte do dia, e a ideia vira apenas uma página em branco.

            Como escritor, vou escrever minhas experiências na escrita, e como foi o processo de publicação do meu primeiro livro, chamado “Despertar – O Renascimento”. A priori, considero a etapa inicial uma das mais difíceis de todo o processo. A primeira coisa que você de ter em mente, é que escrever requer tempo. Sim, se você realmente quer escrever um livro e botar suas ideias no papel, isso levará tempo, e muito. Demorei aproximadamente quatro anos para finalizar meu livro.

            Quatro anos parecem muito, mas procure pesquisar quanto tempo um escritor renomado demorou para escrever e finalizar suas series famosas. Claro que esse tempo é relativo, e varia de livro a livro, e de autor para autor, mas tenha em mente que o processo é lento e demorado, a não ser que você tenha o talento do Stephen King para escrever, aí já é outra história.

            Despertar – O Renascimento é uma ficção distópica, e marca o início de uma série. Na obra, existem dezenas de personagens, e é justamente aqui que começa o primeiro grande desafio do escritor. Como dar nomes e características aos personagens? Como dar a cada personagem uma personalidade distinta? Como descrever as suas aparências e idiossincrasias?

            Sendo sincero, quando nomeei os primeiros personagens, não pesquisei muito a respeito, pois nunca achei que conseguiria ter história suficiente para conseguir publicar. Após ver que a história ganhava corpo e consistência, passei a introduzir os novos personagens com nomes cada vez mais incomuns, procurando em várias fontes, como geradores de nomes na internet, além de nomes e sobrenomes de diversas nacionalidades e culturas. Quanto mais personagens a história ganhava, mais desafiante o processo se tornava.

            Personalidade requer tanto estudo quanto. Na minha metodologia, primeiro deve-se fazer uma leitura mental do personagem, e atribuir para o mesmo uma personalidade e caráter que te satisfaça, seja um personagem afável e carinhoso, ou um personagem intransigente e execrável. É importante ressaltar que um antagonista não necessariamente terá uma personalidade detestável, e um protagonista será a personificação da bondade. O relativismo moral e ético é válido também.

            É comum as pessoas me perguntarem “Como você escreveu tudo isso?”, “Como você consegue inspiração?”. Creio que tudo é uma questão de prática. É claro que toda boa história precisa de um ponto de partida, uma fagulha de inspiração que te leve a criar um mundo fantástico e fantasioso. A minha primeira “fagulha” veio quando ainda era acadêmico do curso de História. Estava no último ano, e divagava sobre assuntos diversos, quando imaginei o início do que seriam os três primeiros capítulos do livro.

            A partir dai, fui escrevendo em um documento do Word tudo o que vinha a minha mente, e conforme o tempo passava, novas ideias surgiam, assim como novos personagens e lugares a serem explorados. Mesmo assim, até hoje, quatro anos e meio depois do primeiro rascunho, muitas vezes as ideias não vem a cabeça, e passo dias sem escrever uma única linha. Da mesma forma, muitas vezes as inspirações vêm em horas inusitadas, como durante o banho, por exemplo.

            Quando o livro finalmente estava pronto, em meados de 2018, comecei a procurar editoras para enviar originais. Acredito que e nesta etapa que muitos escritores desistem de publicar suas obras, e que muitos talentos permanecem nas sombras. O mercado editorial brasileiro ainda é muito pequeno, e as editoras que dão suporte para escritores nacionais autônomos e que nunca publicaram são exceções no mercado. As grandes editoras sequer dão atenção aos escritores novatos, e muitas outras cobram preços abusivos, o que torna o processo impossível para muita gente.

            Felizmente, existem algumas alternativas de publicação sem ter um custo elevado, como é o caso da publicação independente, onde o escritor fica a cargo dos custos, como o marketing, a revisão e a capa. Existem também algumas poucas editoras que pagam uma parte do processo de publicação, o que torna o processo pouco menos exorbitante.

            Antes de aceitar qualquer proposta de editoras, o escritor deve estudar e pesquisar muito antes de fechar uma parceria. Ler o contrato, analisar o perfil da editora, se a mesma tem um bom processo de revisão, bons ilustradores, etc. Não se esqueça de que o livro é um produto, e as editoras, assim como quaisquer outras empresas, querem, entre outras coisas, lucro. É extremamente importante ressaltar que a primeira coisa que se deve fazer após escrever um livro é registrá-lo na biblioteca nacional, e só depois disso enviar originais para as editoras.

            Por último e não menos importante: o que fazer depois que o livro foi publicado? Muita gente não sabe, mas o período pós-publicação é essencial para que o livro tenha uma boa vendagem. Divulgação e propaganda são trabalhos essenciais do escritor, e são tão importantes quanto a própria publicação. Mesmo que o livro seja excelente e tenha uma história incrível e cativante, sem propaganda ninguém saberá da sua existência. Existem diversas formas de parcerias, o que torna o trabalho de divulgação menos desgastante para os escritores. Blogs, canais do Youtube, livrarias, colégios, bibliotecas, bienais… Enfim, tudo é válido para divulgar o livro.

            Essas foram parte das minhas experiências como escritor. Não quero desencorajar ninguém com o texto, apenas deixar evidente que é um caminho extremamente disputado a ser seguido. No final das contas, mesmo que o livro não se torne um best-seller, o mais importante e prazeroso de tudo é vê-lo terminado, e você ter orgulho do que escreveu.



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Renato A. Lima é brasileiro, nascido em Cascavel, PR. Desde jovem, ele acredita que as manifestações artísticas são intrínsecas para moldar o que o ser humano é hoje. A música, em particular, sempre foi uma de suas maiores paixões, o que o levou a trabalhar como professor de música por muitos anos. Renato se interessou e despertou sua inclinação pela escrita enquanto cursava História, o curso pelo qual se formou em 2015. Enquanto ainda era acadêmico, escreveu um resumo do que seria o início da série “Despertar – O Renascimento”, e iniciou o projeto com afinco após se formar, com influências de diversos autores, dentre eles J. R. R. Tolkien, Stephen King, J. K. Rowling, além de influências diretas da cultura pop em geral. Além de escritor, Renato é apaixonado pela cultura japonesa, amante da música, cinéfilo de carteirinha, e nerd em tempo integral.