Ofício do Escritor – Dicas e Dificuldades - Recicla Leitores
Quem nunca teve um sopro de inspiração que te fez fugir da correria do dia-a-dia, levando-o a imaginar mundos fantasiosos ou ideias mirabolantes? É a partir destas ideias que nascem os livros, inclusive a maioria dos best-sellers já escritos. Mas aí vem a pergunta: como transformar essas divagações em um livro? Muitas vezes o trabalho e estudo preenchem boa parte do dia, e a ideia vira apenas uma página em branco.
Como escritor, vou escrever minhas experiências na escrita, e como foi o processo de publicação do meu primeiro livro, chamado “Despertar – O Renascimento”. A priori, considero a etapa inicial uma das mais difíceis de todo o processo. A primeira coisa que você de ter em mente, é que escrever requer tempo. Sim, se você realmente quer escrever um livro e botar suas ideias no papel, isso levará tempo, e muito. Demorei aproximadamente quatro anos para finalizar meu livro.
Quatro anos parecem muito, mas procure pesquisar quanto tempo um escritor renomado demorou para escrever e finalizar suas series famosas. Claro que esse tempo é relativo, e varia de livro a livro, e de autor para autor, mas tenha em mente que o processo é lento e demorado, a não ser que você tenha o talento do Stephen King para escrever, aí já é outra história.
Despertar – O Renascimento é uma ficção distópica, e marca o início de uma série. Na obra, existem dezenas de personagens, e é justamente aqui que começa o primeiro grande desafio do escritor. Como dar nomes e características aos personagens? Como dar a cada personagem uma personalidade distinta? Como descrever as suas aparências e idiossincrasias?
Sendo sincero, quando nomeei os primeiros personagens, não pesquisei muito a respeito, pois nunca achei que conseguiria ter história suficiente para conseguir publicar. Após ver que a história ganhava corpo e consistência, passei a introduzir os novos personagens com nomes cada vez mais incomuns, procurando em várias fontes, como geradores de nomes na internet, além de nomes e sobrenomes de diversas nacionalidades e culturas. Quanto mais personagens a história ganhava, mais desafiante o processo se tornava.
Personalidade requer tanto estudo quanto. Na minha metodologia, primeiro deve-se fazer uma leitura mental do personagem, e atribuir para o mesmo uma personalidade e caráter que te satisfaça, seja um personagem afável e carinhoso, ou um personagem intransigente e execrável. É importante ressaltar que um antagonista não necessariamente terá uma personalidade detestável, e um protagonista será a personificação da bondade. O relativismo moral e ético é válido também.
É comum as pessoas me perguntarem “Como você escreveu tudo isso?”, “Como você consegue inspiração?”. Creio que tudo é uma questão de prática. É claro que toda boa história precisa de um ponto de partida, uma fagulha de inspiração que te leve a criar um mundo fantástico e fantasioso. A minha primeira “fagulha” veio quando ainda era acadêmico do curso de História. Estava no último ano, e divagava sobre assuntos diversos, quando imaginei o início do que seriam os três primeiros capítulos do livro.
A partir dai, fui escrevendo em um documento do Word tudo o que vinha a minha mente, e conforme o tempo passava, novas ideias surgiam, assim como novos personagens e lugares a serem explorados. Mesmo assim, até hoje, quatro anos e meio depois do primeiro rascunho, muitas vezes as ideias não vem a cabeça, e passo dias sem escrever uma única linha. Da mesma forma, muitas vezes as inspirações vêm em horas inusitadas, como durante o banho, por exemplo.
Quando o livro finalmente estava pronto, em meados de 2018, comecei a procurar editoras para enviar originais. Acredito que e nesta etapa que muitos escritores desistem de publicar suas obras, e que muitos talentos permanecem nas sombras. O mercado editorial brasileiro ainda é muito pequeno, e as editoras que dão suporte para escritores nacionais autônomos e que nunca publicaram são exceções no mercado. As grandes editoras sequer dão atenção aos escritores novatos, e muitas outras cobram preços abusivos, o que torna o processo impossível para muita gente.
Felizmente, existem algumas alternativas de publicação sem ter um custo elevado, como é o caso da publicação independente, onde o escritor fica a cargo dos custos, como o marketing, a revisão e a capa. Existem também algumas poucas editoras que pagam uma parte do processo de publicação, o que torna o processo pouco menos exorbitante.
Antes de aceitar qualquer proposta de editoras, o escritor deve estudar e pesquisar muito antes de fechar uma parceria. Ler o contrato, analisar o perfil da editora, se a mesma tem um bom processo de revisão, bons ilustradores, etc. Não se esqueça de que o livro é um produto, e as editoras, assim como quaisquer outras empresas, querem, entre outras coisas, lucro. É extremamente importante ressaltar que a primeira coisa que se deve fazer após escrever um livro é registrá-lo na biblioteca nacional, e só depois disso enviar originais para as editoras.
Por último e não menos importante: o que fazer depois que o livro foi publicado? Muita gente não sabe, mas o período pós-publicação é essencial para que o livro tenha uma boa vendagem. Divulgação e propaganda são trabalhos essenciais do escritor, e são tão importantes quanto a própria publicação. Mesmo que o livro seja excelente e tenha uma história incrível e cativante, sem propaganda ninguém saberá da sua existência. Existem diversas formas de parcerias, o que torna o trabalho de divulgação menos desgastante para os escritores. Blogs, canais do Youtube, livrarias, colégios, bibliotecas, bienais… Enfim, tudo é válido para divulgar o livro.
Essas foram parte das minhas experiências como escritor. Não quero desencorajar ninguém com o texto, apenas deixar evidente que é um caminho extremamente disputado a ser seguido. No final das contas, mesmo que o livro não se torne um best-seller, o mais importante e prazeroso de tudo é vê-lo terminado, e você ter orgulho do que escreveu.