Parasita – Um Soco na Cara do Conservadorismo da Academia - Recicla Leitores
O Oscar, (em inglês, Academy Awards), é o maior e mais importante prêmio do cinema mundial. Sua história tem início em 1927, com a criação da “Academia de Artes e Ciências Cinematográficas”, uma organização sem fins lucrativos que foi criada na época pelas 36 personalidades mais importantes da indústria cinematográfica.
A primeira entrega dos prêmios da Academia aconteceu em Hollywood, no dia 16 de maio de 1929, para honrar as realizações cinematográficas mais proeminentes de 1927 e 1928, e a partir da década de 50 teve sua transmissão televisionada e transmitida pela grande mídia.
Especificações a parte, é de se esperar que, em uma premiação realizada nos Estados Unidos, a hegemonia de filmes norte-americanos prevalecesse ao longo dos anos. Isso se reflete no fato de que somente a partir de 1957 a categoria “Melhor Filme Estrangeiro” foi criada para premiar filmes que não eram falados na língua inglesa.
Na história do Oscar, raramente filmes estrangeiros participaram de outras categorias, e quando conseguiram, com poucas exceções levavam mais do que uma estatueta para casa. Entretanto, mais recentemente esse cenário está começando a se transformar e a quebrar barreiras linguísticas e conservadoras.
Entre os prêmios mais prestigiados, certamente está o de Melhor Diretor, e basta analisar os últimos vencedores para notar essa transformação: 2014 – Alfonso Cuarón (mexicano), 2015 e 2016 – Alejandro González (mexicano), 2018 – Guillermo del Toro (mexicano), 2019 – Alfonso Cuarón, e 2020 – Bong Joon-ho (sul-coreano).
Mas essa flexibilização cultural só veio mesmo em 2018, quando o excelente filme “Roma”, de Alfonso Cuarón, concorreu a 10 Oscars, incluindo alguns dos mais importantes. Roma não ganhou o prêmio de Melhor Filme, o que para muitos foi injustiçado e demonstrava o conservadorismo da Academia.
A resposta veio em 2020, como um soco na cara de muitos críticos cinematográficos: “Parasita”, brilhante filme sul-coreano que demonstra com sutileza e genialidade a desigualdade social intrincada na nossa sociedade. O longa concorreu a seis Oscars, e levou para casa quatro: Melhor Diretor para Bong Joon-ho, Melhor Filme Estrangeiro, Melhor Roteiro Original, e Melhor Filme, fazendo história ao se tornar o primeiro longa de outro idioma a ganhar a estatueta mais prestigiada da noite, e o prêmio mais importante do cinema mundial.
Muitos não gostaram do resultado, como o presidente norte-americano Donald Trump, que criticou duramente o filme, dizendo o seguinte:
“Quão ruim foi o Oscar este ano. E o vencedor é… um filme da Coreia do Sul! O que foi isso? Temos problemas suficientes com a Coreia do Sul com relação ao comércio. Além disso, dão a eles o melhor filme do ano. Foi bom? Eu não sei. Vamos voltar com ‘… E o Vento Levou’ e ‘Crepúsculo dos Deuses’, por favor? Tantos filmes excelentes.”
A reação do presidente demonstra o preconceito enraizado na indústria e na cultura mundial, seja no cinema, na música ou em qualquer outra forma de manifestação artística. Infelizmente, a pluralidade cultural ainda é uma utopia, e muitas vezes preferimos seguir a correnteza, como bois na fila do abatedouro, e deixamos passar obras de arte que nascem e morrem no esquecimento, completamente ignorados pela grande mídia e pela maioria dos meios de comunicação.
Demorou 92 anos para um filme estrangeiro ganhar o Oscar de Melhor filme, o que demonstra que ainda estamos há anos-luz de termos uma premiação cinematográfica justa, onde todas as culturas mundiais sejam valorizadas com uniformidade. A Academia aos poucos se transforma, e com os novos ventos, seu conservadorismo, quiçá, um dia desaparecerá.