Parasita – Um Soco na Cara do Conservadorismo da Academia - Recicla Leitores

publicado em:28/02/20 11:08 PM por: Renato A. Lima Oscar 2020Renato A. Lima

            O Oscar, (em inglês, Academy Awards), é o maior e mais importante prêmio do cinema mundial. Sua história tem início em 1927, com a criação da “Academia de Artes e Ciências Cinematográficas”, uma organização sem fins lucrativos que foi criada na época pelas 36 personalidades mais importantes da indústria cinematográfica.

            A primeira entrega dos prêmios da Academia aconteceu em Hollywood, no dia 16 de maio de 1929, para honrar as realizações cinematográficas mais proeminentes de 1927 e 1928, e a partir da década de 50 teve sua transmissão televisionada e transmitida pela grande mídia.

            Especificações a parte, é de se esperar que, em uma premiação realizada nos Estados Unidos, a hegemonia de filmes norte-americanos prevalecesse ao longo dos anos. Isso se reflete no fato de que somente a partir de 1957 a categoria “Melhor Filme Estrangeiro” foi criada para premiar filmes que não eram falados na língua inglesa.

            Na história do Oscar, raramente filmes estrangeiros participaram de outras categorias, e quando conseguiram, com poucas exceções levavam mais do que uma estatueta para casa. Entretanto, mais recentemente esse cenário está começando a se transformar e a quebrar barreiras linguísticas e conservadoras.

            Entre os prêmios mais prestigiados, certamente está o de Melhor Diretor, e basta analisar os últimos vencedores para notar essa transformação: 2014 – Alfonso Cuarón (mexicano), 2015 e 2016 – Alejandro González (mexicano), 2018 – Guillermo del Toro (mexicano), 2019 – Alfonso Cuarón, e 2020 – Bong Joon-ho (sul-coreano).

            Mas essa flexibilização cultural só veio mesmo em 2018, quando o excelente filme “Roma”, de Alfonso Cuarón, concorreu a 10 Oscars, incluindo alguns dos mais importantes. Roma não ganhou o prêmio de Melhor Filme, o que para muitos foi injustiçado e demonstrava o conservadorismo da Academia.

            A resposta veio em 2020, como um soco na cara de muitos críticos cinematográficos: “Parasita”, brilhante filme sul-coreano que demonstra com sutileza e genialidade a desigualdade social intrincada na nossa sociedade. O longa concorreu a seis Oscars, e levou para casa quatro: Melhor Diretor para Bong Joon-ho, Melhor Filme Estrangeiro, Melhor Roteiro Original, e Melhor Filme, fazendo história ao se tornar o primeiro longa de outro idioma a ganhar a estatueta mais prestigiada da noite, e o prêmio mais importante do cinema mundial. 

            Muitos não gostaram do resultado, como o presidente norte-americano Donald Trump, que criticou duramente o filme, dizendo o seguinte:

            “Quão ruim foi o Oscar este ano. E o vencedor é… um filme da Coreia do Sul! O que foi isso? Temos problemas suficientes com a Coreia do Sul com relação ao comércio. Além disso, dão a eles o melhor filme do ano. Foi bom? Eu não sei. Vamos voltar com ‘… E o Vento Levou’ e ‘Crepúsculo dos Deuses’, por favor? Tantos filmes excelentes.”

            A reação do presidente demonstra o preconceito enraizado na indústria e na cultura mundial, seja no cinema, na música ou em qualquer outra forma de manifestação artística. Infelizmente, a pluralidade cultural ainda é uma utopia, e muitas vezes preferimos seguir a correnteza, como bois na fila do abatedouro, e deixamos passar obras de arte que nascem e morrem no esquecimento, completamente ignorados pela grande mídia e pela maioria dos meios de comunicação.

            Demorou 92 anos para um filme estrangeiro ganhar o Oscar de Melhor filme, o que demonstra que ainda estamos há anos-luz de termos uma premiação cinematográfica justa, onde todas as culturas mundiais sejam valorizadas com uniformidade. A Academia aos poucos se transforma, e com os novos ventos, seu conservadorismo, quiçá, um dia desaparecerá.



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Renato A. Lima é brasileiro, nascido em Cascavel, PR. Desde jovem, ele acredita que as manifestações artísticas são intrínsecas para moldar o que o ser humano é hoje. A música, em particular, sempre foi uma de suas maiores paixões, o que o levou a trabalhar como professor de música por muitos anos. Renato se interessou e despertou sua inclinação pela escrita enquanto cursava História, o curso pelo qual se formou em 2015. Enquanto ainda era acadêmico, escreveu um resumo do que seria o início da série “Despertar – O Renascimento”, e iniciou o projeto com afinco após se formar, com influências de diversos autores, dentre eles J. R. R. Tolkien, Stephen King, J. K. Rowling, além de influências diretas da cultura pop em geral. Além de escritor, Renato é apaixonado pela cultura japonesa, amante da música, cinéfilo de carteirinha, e nerd em tempo integral.